Jaqueline Machado | Apenas Crianças
- Da Redação
- 7 de out. de 2024
- 2 min de leitura
Disse Jorge Amado: “O povo Brasileiro vive numa situação de miséria tão grande, que é um milagre viver no Brasil”.
Sobre Capitães de Areia:
O livro fala da irmandade entre mais de 100 meninos abandonados, que se tornaram infratores. São chamados de Capitães de Areia, porque vivem sempre no cais e se abrigam no trapiche.
Pedro Bala é o chefe do grupo. É filho de um homem que morreu pela polícia durante uma greve. Sem perna, é manco e não tem boas expectativas sobre a vida. Traumatizado, sem o amor de ninguém, foi adotado.

O professor é o menino que gosta de ler e desenhar. Gato, é o galã. Teve um caso com Dalva, uma prostituta. João Grande sempre foi considerado o burro da turma, mas muito protetor, usa a força para defender os amigos. Voltaseca parece um cangaceiro, inspirado num daqueles homens do bando de Lampião. Dora, doce e protetora, é a única menina do grupo.
Eles não são todos bons, nem tão maus, são apenas crianças caídas na marginalidade num mundo em que ninguém se entende. Muitos falam mal de Jorge Amado e desta obra que ultrapassou as vendas do livro Gabriela cravo e canela. Mas o autor só queria, através de sua literatura, promover um pouco de revolução para criar uma ponte de solidariedade entre os ricos e os pobres.
A obra foi escrita numa época de ascensão do Nazifascismo, que falava em pureza racial, porque a mistura "enfraquecia" as raças. Amado descordava desta ideia, e acreditava que a solução para o fim da desigualdade econômica e das tensões raciais era a miscigenação. E que essa miscigenação é bela e deve ser enaltecida. Quanto mais misturado, mais lindo é o povo. Isso é democracia social e racial.
Este texto não é uma apologia ao crime, pois crime é sempre condenável. O que o livro quer dizer, e quase ninguém quer entender, é que, os capitães da areia, repelidos pela sociedade, também são gente e merecem um olhar fraterno, uma chance de descobrir que podem ser bons. E que merecem usufruir de suas dignidades apagadas. E, principalmente, que merecem amor.
Jaqueline Machado.

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