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Jaqueline Machado | Macondo e suas utopias

O realismo mágico é um fascinante estilo literário. Explicando a grosso modo, é um tipo de literatura que retrata o mundo das fantasias, existente apenas no imaginário de alguns crédulos, sonhadores ou loucos. É o que dizem. Mas na verdade não é bem assim... Os escritores mais sensíveis sempre usaram esse recurso literário para expressar, em forma de parábolas, realidades nas quais acreditavam, mas que não podiam ser faladas em linguagem aberta, já que o mundo onde vivemos é cheio de preconceitos e de incredulidades impiedosas.


E, eles sempre tiveram razão, pois quem de nós pode saber onde inicia a realidade e acaba a fantasia ou vice-versa? O mais célebre realismo mágico da literatura é o livro "Cem anos de solidão", do escritor colombiano e Prêmio Nobel, Gabriel García Márquez. Neste livro, ele, com sua genialidade, narra uma metáfora da condição latino-americana, enquanto conta a saga da cidade de Macondo e a ascensão e queda de seus fundadores, a família Buendía.


Macondo era uma aldeia com 20 casas de pau a pique e telhados de sapé, que precipitava à beira de um rio com pedras grandes e brancas feito ovos pré-históricos. Não haviam mortos entre as terras da aldeia, pois ninguém tinha mais do que trinta anos de idade. O mundo era tão recente, que as coisas ainda precisavam de nomes, E para mencioná-las, era preciso apontar com o dedo. Anualmente, sempre nos meses de março, o pequeno povoado era visitado por ciganos esfarrapados. “- As coisas têm vida própria, - dizia um cigano chamado Melquíades. - Só questão de despertar suas almas.”

Ele mostrava seus inventos alquímicos muito à frente do tempo daquele pequeno povoado. No primeiro ano, levou uma mágica lupa, e dizia se tratar da oitava maravilha do mundo. O espírito curioso e inventivo de Buendia, se atiçava ao ver e experimentar certas novidades. Deu todo o dinheiro que tinha em troca de alguns inventos, isolou-se num quartinho que construíra nos fundos da casa e, em meio a muitas pesquisas tornou-se também um alquimista. Isso deixava Úrsula, sua esposa, uma mulher de forte personalidade, brava e inconformada.


Pois, perdido nas tentativas de novas invenções, esqueceu-se de suas obrigações domésticas, deixando os cuidados com a horta e com a casa, sob a responsabilidade da esposa. A história faz menção ao livro de Gênesis, onde o princípio das coisas se iniciava. A árvore genealógica da família, descrita de geração em geração, revela uma sequência de erros que se repetem na trilha humana através dos genes representados pela sequente repetição dos nomes, Buendia pai, Buendia filho, Buendia neto etc...


Amores incestuosos, que podem trazer ao mundo bebês com rabo de porco, nos faz lembrar a antiga crença de que filhos entre primos, por exemplo, podem nascer com más formações genéticas. Os adultérios também são bastante presentes. E as guerras que surgem depois que Buendia decide conhecer novas terras, é a realidade pós-moderna trazida pelo descontrole da ambição e do consumismo. A pandemia de insônia, refere-se ao esquecimento de nossos antepassados. Por todas essas questões, a própria humanidade se perde e se autocondena a uma irremediável solidão.


Caros leitores, conseguem perceber todas as verdades existentes por trás dessa história permeada no realismo mágico? Essa é a realidade de um gênio. Essa é a exemplar fantasia de Gabriel Garcia Márquez.


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