Dra. Ana Flor Hexel.
O aumento dos casos de HIV e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) no Brasil continuam a preocupar, com o Rio Grande do Sul destacando-se entre os estados que apresentam as taxas de infecção mais elevadas. Segundo o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, a taxa de infecção por HIV no estado é substancialmente superior à de outras regiões, evidenciando a urgência de ações específicas para conter a disseminação do vírus e de outras ISTs.
Dados de dezembro de 2023 indicam que, no Brasil, foram registrados 1.124.063 casos de AIDS desde 1980, com 382.521 mortes associadas e cerca de 770 mil pessoas em tratamento atualmente. Estima-se ainda que cerca de 100 mil pessoas desconhecem que são portadoras do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). O boletim também aponta uma elevação na taxa de detecção da AIDS entre jovens de 20 a 29 anos nos últimos cinco anos. Entre homens de 20 a 24 anos, a taxa é de 33,7, enquanto entre mulheres da mesma faixa etária, é de 8,4. Para a faixa de 25 a 29 anos, o índice de detecção é de 54,4 para homens e 12,9 para mulheres. Entre as mulheres, a faixa de 40 a 44 anos apresenta a maior taxa de detecção, com índice de 18,9. Entre adolescentes de 15 a 19 anos, a taxa é de 5,8 para homens e 2,8 para mulheres.
Em 2022, o Rio Grande do Sul apresentou um coeficiente de mortalidade por AIDS de 7,3 por 100 mil habitantes, enquanto a capital, Porto Alegre, registrou uma taxa de 23,8, frente à média nacional de 4,1. Esse índice posiciona o estado entre os primeiros em incidência do vírus, superando estados como Pará e Amazonas. Em contraste, estados como o Distrito Federal e a capital do Acre apresentam índices bem inferiores, reforçando a disparidade entre as regiões do Brasil.
Entre 2018 e 2022, sete dos primeiros vinte municípios com as taxas mais altas de infecção por HIV estão no Rio Grande do Sul, liderados por Porto Alegre, seguido de Alvorada (2º), Canoas (4º), São Leopoldo (6º), Rio Grande (9º), Gravataí (17º) e Sapucaia do Sul (19º).
Para conter a disseminação do HIV e outras ISTs, o Estado tem investido em programas de prevenção, como a distribuição de preservativos e o acesso a tratamentos profiláticos, como a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) e a Profilaxia Pós-Exposição (PEP).
A infectologista Ana Flor Hexel ressalta que a desinformação permanece como um dos principais desafios no combate às ISTs. “A falta de conhecimento faz com que as pessoas adiem o diagnóstico e não busquem serviços de saúde”, destaca. Ela sublinha, ainda, que a questão vai além das ISTs, relacionando-se também à ausência de uma educação sexual adequada. “Educação sexual é essencial. Falar sobre sexo seguro não é ensinar a prática, mas alertar para os riscos de relações desprotegidas, informar adolescentes sobre ISTs, sintomas e como buscar ajuda”, conclui.
A alta incidência de HIV e outras ISTs no Rio Grande do Sul é um alerta para a necessidade de políticas públicas mais direcionadas e de um esforço conjunto entre governo e sociedade. Espera-se que, com a implementação de programas educativos e a ampliação do acesso a tratamentos preventivos, o estado possa reduzir o número de novos casos nos próximos anos.
CRÉDITOS: William Barreto.
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