Danúbia Cremonese | Quem está sendo o maior influenciador do seu filho?
- Da Redação
- há 3 dias
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Cada deslizar de dedo é um passo que afasta e desconecta do presente e da vida real. Cada vídeo sem supervisão, um abdicar silencioso de presença e abandono dos responsáveis.
O mundo digital se ergue como uma muralha invisível nas famílias, entre pais e crianças. E, sem ninguém perceber a relação esfria, pois deixam de se olhar, de dialogar, de se conectarem e se vincularem verdadeiramente ao que importa, e a ausência passa da física para a emocional. E suas consequências são profundas tanto para os filhos quanto para a consciência dos responsáveis.
Essa nova onda que veio com o acesso facilitado da internet somada a instantaneidade de informações trouxe consigo, dados que doem e não podem ficar escondidos, porque de uma forma ou outra está atingindo e prejudicando todos nós e o futuro da sociedade.

Somos o país mais ansioso do mundo, só nos últimos dez anos, os atendimentos por transtornos de ansiedade a crianças e adolescentes no SUS dispararam mais de 2.200%. Em 2014, foram 1.850 atendimentos para a faixa de 10–14 anos; em 2024, 24.367. Entre os de 15–19 anos, passou de 1.534 para 53.514. Segundo pesquisa realizada pelo Fatorrrh.
Quando o assunto é depressão, estamos em 4º lugar no mundo. Uma pesquisa da UFMG compilou 142 estudos e constatou que 72% apontam aumento da depressão associado ao uso excessivo de telas.
E o dado mais triste é ver as crianças que deveriam estar desenvolvendo capacidades a partir da criatividade, curiosidade, exploração de novas experiências, “apodrecendo o cérebro” com o uso de telas.
Seus filhos provavelmente já estão fazendo parte das estatísticas mais assustadoras pelo excesso não limitado e supervisionado das telas. Você tem noção de que nesse momento alguém que você não conhece, não sabe o que pensa e faz pode estar influenciando mais o seu filho do que você?
Talvez você ainda não esteja vendo essa realidade, e é pra isso que eu escrevo com tom de alerta. Talvez você esteja fingindo não ver, ou talvez esteja vendo mas escolhendo o caminho mais fácil em detrimento do caminho mais certo, já que fazer o certo pode ser mais desafiador. Mas com todo respeito, isso é uma forma de abandonar e negligenciar, criando neles uma das maiores feridas emocionais dessa Era.
Crianças precisam de comando, de liderança, de um adulto que lhe influencie e se comporte como tal porque já tem um cérebro formado para dirigir a vida daquele dependente. Eles precisam de limites, firmeza, sabedoria e amor e não de permissões ilimitadas. Os adolescentes por sua vez já podem acompanhar os pais em todas as tarefas da vida e da casa para desenvolverem novas capacidades que utilizarão na vida adulta. Mas o que a maioria está fazendo? Jogando na internet ou rolando incansavelmente o feed nas redes sociais, se alimentando de comparações e vazio existencial. Os pais devem dar o exemplo em tudo, mas muitos também já se tornaram usuários e dependentes desse hormônio do prazer, chamado dopamina rápida e barata.
Percebo que é preciso recalcular a rota, antes tarde do que mais tarde, estipular acordos familiares sérios para que o uso da tecnologia e novas inteligências sejam usadas moderadamente por nós e não sermos cobaias dos algoritmos, usados por ela.
Meu alerta é que você entenda o quanto a infância é o chão que seu filho pisará a vida inteira, enquanto o cérebro dele poderia florescer com brincadeiras reais, conversas face a face, risos e descobertas, o tempo diante da tela isola, acelera, impacienta gerando déficits de atenção, impulsividade e dificuldade em autocontrole, desmotivação para novos aprendizados sem contar a distorção corporal e baixa autoestima, intensificadas pelos padrões irreais compartilhados online.
Mas a boa noticia é que você que está lendo essa matéria possivelmente é um adulto, pai ou mãe, tem o poder nas mãos. Você é o comandante da jornada deles e deve ser a maior referência, exemplo e influenciador com base espiritual fortalecedora que vem dos princípios de Deus e da sua palavra. É você que preciso hoje decidir que filho deseja deixar para a sociedade no futuro. Resgate enquanto dá tempo com presença ativa, limites e supervisão. Fazer o que é preciso tem um preço, o de bancar a desaprovação e desagrado deles, mas educar não é só sobre eles, é também sobre sua consciência lá na frente. Fazer o que é certo para eles, reconheço ser a forma mais linda de amar.
Concluindo, cada minuto desperdiçado no digital, sem olhar no olho da criança, é uma oportunidade emocional roubada. Quando deixamos os algoritmos guiar o coração dos nossos filhos, abrimos mão da educação mais profunda: aquela feita com diálogo, confiança e afeto. O futuro vai depender dessa geração que está sendo educada e desenvolvida por você. Então antes de se preocupar em deixar heranças, pense em deixar o melhor legado. Afinal, um filho sempre sabe quando um “não” é dado com amor e responsabilidade.
Danúbia Cremonese
Empresária e Terapeuta Sistêmica
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