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  • Foto do escritorDa Redação

Nilton Santos | Bumbada na pausa

Bumbada na pausa, para quem não sabe, na linguagem dos músicos, é quando, no intervalo de uma passagem de um trecho de uma música, quando deveria haver uma pausa, silêncio total, um dos integrantes da banda toca o seu instrumento no momento errado. A expressão, antes circunscrita ao meio musical, passou a ser usada quando alguém destoa do contexto de um modo constrangedor, indisfarçável...


O Brasil, em termos de administração da crise causada pela pandemia, afora as incontáveis notas desafinadas, tem se notabilizado por inúmeras bumbadas fora de hora. Se não fosse trágico até poderia ser cômico, mas não é possível fazer graça quando caminhamos firmes e em acelerado compasso para contarmos meio milhão de mortos. O descompasso se transformou no fundo musical de uma tragédia anunciada desde o final do ano retrasado, quando até as amebas, se ouvidas, diriam que o vírus iria se espalhar rapidamente em todos os recantos da terra ceifando vidas.


A harmonia foi para as cucuias diante do descompasso entre o que estamos fazendo e o que deveríamos fazer para enfrentar uma crise sanitária de tamanha envergadura. Mas o que esperar quando o maestro não dá mínima para a ciência e a cada ato estorva quem busca ajeitar o andamento? Quando em plena campanha pela reeleição brada contra o isolamento, a vacina, o uso de máscaras e faz ajuntamento pregando justamente o contrário do que até o momento a ciência pode afirmar?


Mas, apesar das barbaridades que profere em profusão, não se pode colocar tudo na conta do Jair. Cada um de nós, no momento em que insiste em não respeitar as regras do isolamento, que infectado não se recolhe, também engrossa o coro dos desafinados. Apesar dos pesares, penso que ainda é tempo de recompormos a orquestra, redistribuindo os instrumentos colocando-os nas mãos de quem realmente saiba tocá-los, mas para isso precisamos de um maestro que harmonize o conjunto composto por todos nós. Se a Banda Brasil continuar dando bumbadas na pausa, o hit mais tocado continuará sendo a marcha fúnebre...


Nilton Santos.

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