De todos os problemas que a pandemia está a nos causar – e são
muitos –, ao meu ver o pior está na impossibilidade de se estabelecer
qualquer tipo de previsão de quando poderemos retornar à
“normalidade”, se isso será possível mais adiante...
Em todas as atividades, desde o começo dessa crise, se estabelecem prazos que,
invariavelmente, são prorrogados, e assim vamos levando a coisa... Entre
o desejo e a realidade que vem nos impondo duras penas. Em qualquer
sociedade o planejamento é condição fundamental para a realização de
metas e objetivos. Sem essa possibilidade, se torna praticamente
impossível avançar, e é isso que está nos acontecendo. Estamos, como um
organismo doente que precisa desativar parte do seu organismo para se
concentrar no essencial e continuar sobrevivendo até que surja a cura,
estamos letárgicos, quase paralisados.
Considerando a dinâmica da pandemia, chego à conclusão de que somente com o surgimento de uma vacina capaz de nos proteger, mesmo que por um curto espaço de tempo, é que poderemos retomar a rotina de antes, recuperar o tempo perdido, o
que parece algo ainda distante diante da grande complexidade de que se
reveste o processo de evolução e conclusão de um processo de
imunização em massa. Talvez só para o ano que vem é o que tenho lido e
ouvido de parte dos especialistas na matéria.
Enquanto não surge uma solução, vamos evoluindo, ou seja, estamos nos adaptando à duras penas à uma realidade de limitações, imprevisibilidade e empobrecimento
diante do abrupto freio imposto à atividade econômica. Desde os
primórdios da humanidade a caverna era o abrigo para intempéries e
ameaças do mundo exterior. Fora disso, nossa natureza nos impelia ao
mundo exterior pois era nele que nos realizávamos como humanos. Hoje,
forçados a viver em reclusão em nossas cavernas, nos violentamos para
nos proteger do inimigo invisível, o que em termos psicológicos é um alto
preço, conta ainda longe do seu total.
Se temos abrigo, alimento e um ganho trabalhando em casa, estamos bem, contudo, nem todos possuem essas condições elementares à disposição. Esses são as verdadeiras vítimas que evoluem no doloroso processo do sofrimento impostos aos menos favorecidos em uma sociedade que para muitos é madrasta.
Bom final de semana!
Nilton Santos