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  • Foto do escritorDa Redação

Jaqueline Machado | A Luz de Tieta

Era uma vez uma cidadezinha localizada no ventre da Bahia, chamada Santana do Agreste, e sua mais célebre filha... a bela e sensual pastora de ovelhas, Maria Antonieta – vulgo - TIETA. Seu pai, o mesquinho Zé Esteves, ao descobrir através da invejosa Perpétua, sua filha mais velha, que Tieta, muito liberada sexualmente, não era mais virgem, expulsa a jovem pastora de casa e lhe espanca em praça pública.


Sentindo-se profundamente humilhada e sozinha, pois na praça ninguém parte em sua defesa, Tieta sai sem rumo, prometendo, a si mesma, um dia retornar rica e poderosa para calar a boca de todos aqueles hipócritas que a condenaram quando ela mais precisou de socorro.


E comprovando o poder de seus desejos, vinte e cinco anos depois, ela retorna se apresentando como viúva de um importante comendador. Rica, ainda mais bonita e sensual. Volta em triunfo ao vilarejo. Com dinheiro e influência política, ajuda a família, que por interesses financeiros passa a tratá-la com toda a deferência, Perpétua, a irmã traidora no passado é a que mais lhe presta bajulações. Tieta também promove benefícios à comunidade que estava estagnada no tempo. Entre os benefícios... estava a luz elétrica. Era a luz de Tieta a iluminar a pacata cidade.


Tieta do Agreste, livro escrito pelo amadíssimo Jorge Amado, em verdade é mais que uma obra literária, é um patrimônio cultural brasileiro que virou novela, filme e letra de música. O best seler, também é, sem sombras de dúvidas, um retrato que revela de maneira crua e nua o rosto da hipocrisia da sociedade. Sociedade essa, infeliz e julgadora. Capaz de torcer o nariz, zombar e apedrejar uma jovem por não ser mais virgem, e anos depois, como se nada tivesse acontecido, aceitar o dinheiro da mesma vítima, que um dia a teve como algoz.


Sim. Nos diálogos dos incautos percebemos que frequentemente eles atribuem beleza a quem tem dinheiro e feiura aos pobres. Virtudes aos que residem em grandes mansões e vícios e castigos aos mais simples. Pureza racial a quem tem poder e racismo aos demais.


Bravo JORGE AMADO! Tieta é uma parábola sobre a honestidade mentirosa dos que, em verdade, não têm competência para buscar, mas querem sempre MAIS, MAIS E MAIS... E, de preferência, sem fazer muito esforço.

Assim disse Caetano Veloso sobre esses que tudo querem mas não sabem buscar:

Toda a noite é a mesma noite A vida é tão estreita Nada de novo ao luar Todo mundo quer saber Com quem você se deita Nada pode prosperar.

Jaqueline Machado.


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